A liberação do corpo de Etevaldo Bispo dos Santos, homem em situação de rua morto na última sexta-feira (17) em Irajá, na Zona Norte do Rio, foi concedida hoje (21) após articulação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) com a Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio (SMAS) e o projeto social Batikum Afro.
O traslado do corpo para Salvador — onde acontecerá o velório com a família, no cemitério São Sebastião — será subsidiado pela SMAS, resultado de uma série de ações feitas em conjunto com a DPRJ. O projeto Batikum Afro, do qual Etevaldo participava promovendo oficinas de música afro-brasileira em comunidades da Zona Norte, mobilizou amigos e instituições para facilitar o retorno à cidade natal.
Conhecido como ‘Bahia’, Etevaldo foi morto sob o viaduto da Avenida Pastor Martin Luther King Jr., embaixo da estação de metrô de Irajá, em um ataque realizado por atiradores armados com fuzis e pistolas. Além dele, outras duas pessoas foram atingidas: Fábio Fernando da Silva, de 44 anos, que também morreu no local e já foi sepultado, após a conclusão dos trâmites de documentação, e Jaílton Matias Anselmo, de 37 anos, que está internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), na Penha. A motivação segue sendo investigada.
A Defensora Pública e Subcoordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da DPRJ, Cristiane Xavier de Souza, esteve à frente da atuação, em conjunto com a Assistência Social, com a realização de autorizações formais, dispensa de licitação para custeio do serviço e cotação com funerárias.
Segundo a Subcoordenadora, a falta de documentos de pessoas em situação de rua é um dos principais problemas relacionados a casos como o de Etevaldo, que não tinha documentação civil, o que dificultou a sua identificação e o contato com a família.
— Quando o corpo é identificado a partir da documentação necessária, o resultado traz dignidade à vítima e aos familiares vulnerabilizados, que neste caso não tinham condição de custear o traslado e receberam o direito de sepultamento. Isso também reverbera na estatística, e nos ajuda a mapear óbitos e crimes, fazendo com que essas pessoas não virem desaparecidos, números sem nomes — explica Cristiane Xavier de Souza.
A Defensora destacou ainda que a parceria entre o poder público e a sociedade civil — através de amigos e instituições como o Batikum — foi essencial para garantir o tratamento adequado à vítima.
— Me causa muita indignação ainda viver uma realidade como essa. Entender que há quem veja pessoas em situação de rua como um problema a ser solucionado com um armamento pesado, em uma lógica de que essas pessoas não são seres humanos como nós. Elas são e merecem respeito e dignidade — afirmou.
O crime
Etevaldo Bispo dos Santos foi assassinado na madrugada da última sexta-feira (17), embaixo da estação de metrô de Irajá, na Avenida Pastor Martin Luther King Jr. De acordo com testemunhas, os criminosos chegaram em um carro e dispararam contra pessoas que estavam dormindo no viaduto, entre eles Etevaldo e Fábio Fernando da Silva, que morreram no local. Jaílton Matias Anselmo foi atingido, mas sobreviveu, e segue entubado no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), na Penha.
Durante toda a sexta-feira, a DPRJ expediu ofícios para que o Metrô Rio, pontos de ônibus, delegacia e estabelecimentos preservassem imagens das câmeras de segurança, a fim de identificar os suspeitos dos assassinatos; solicitou assistência ao caso para a Delegacia de Homicídios e para o Hospital Getúlio Vargas; acionou o Conselho Nacional dos Direitos Humanos e oficiou o Ministério Público.