“Mãe Bernadete hoje, uma ancestral nossa, tem um legado, um legado de luta, de resistência, uma mulher conhecida por não ter dado um passo atrás. Ela lutava pelas questões raciais, questões de classe, a questão do racismo ambiental e dos povos de terreiro e é por todo esse legado que a comunidade continua de pé, na homenagem e na luta!”. A voz de Mãe Rosa de Xangô, umas das lideranças religiosas da comunidade quilombola de Pitanga de Palmares, deu o tom do Tributo à Mãe Bernadete – 74 anos de Luta e Resistência que celebrou neste domingo, 27, a vida e o legado de uma líder que dedicou sua vida à luta pelos direitos e à preservação da cultura quilombola e dos povos de santo.
A Iyalorixá, referência na resistência das comunidades quilombolas, segue inspirando as novas gerações e homenageá-la reafirma a luta por justiça racial e o direito à vida. Jurandy Pacífico, filho de Mãe Bernadete e liderança de Pitanga dos Palmares, reafirma a necessidade da parceria com instituições do poder público como mais um dos braços da luta por direitos. “É de suma importância a presença da Defensoria, que é um órgão que presta serviço à população onde é nítido a ausência de políticas públicas. Para mim e minha família, também para a comunidade, mostra que tem gente do nosso lado para garantirmos o direito ao nosso território e no combate ao racismo. Mãe Bernadete vive nesse legado!”, diz Jurandy.
O evento foi realizado na Comunidade do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, e contou com a presença da defensora-geral da DPE/BA Camila Canário, da assessora do Gabinete para Assuntos Interinstitucionais Laura Fagury e da coordenadora do Núcleo de Equidade Racial Mônica Antonieta Magalhães. “Mãe Bernadete foi uma liderança, militante que levava o nome de uma comunidade e que mostrava a necessidade de proteção desses grupamentos, de preservação desses grupamentos. Somos uma instituição que sabe o que quer, sabe a que veio e que sabe a quem servir! E vamos agregar a essa luta que é tão importante, que não é só sobre sobrevivência, mas uma luta de resgate da existência”, afirma Camila Canário.
Atento às demandas da comunidade, o Núcleo de Equidade Racial também reafirmou seus laços com a comunidade de Pitanga dos Palmares. “Nós temos um protocolo de orientação e atuação que responde a essas demandas que a comunidade quilombola nos traz. Estamos prontas para encampar junto com as comunidades quilombolas as regularizações dos territórios. E estar aqui hoje é reatar os diálogos com as lideranças quilombolas, com os povos de terreiro para que possamos ter atuações estratégicas, para que possamos dar efetividade a direitos dos povos tradicionais”, evidencia Mônica Antonieta Magalhães.
A programação contou com uma missa em memória de Mãe Bernadete, plantio de árvores nativas no Quilombo, lançamento do documentário da 7ª edição do Festival de Cultura e Arte Quilombola, feira de agricultura familiar, além de apresentações culturais de grupos locais. Muitas comunidades da região e lideranças de terreiro se reuniram para celebrar o legado da líder quilombola, assassinada dentro de casa no dia 17 de agosto de 2023.
PODER PÚBLICO FORTALECE A LUTA QUILOMBOLA
Muitas autoridades estiveram presentes no tributo para fortalecer e reafirmar a ação conjunta para a garantia de direitos e do território. A Defensoria Pública da União também reafirmou o seu compromisso com as comunidades quilombolas. “Estar aqui junto à DPE é muito importante porque confirma o nosso objetivo de uma união entre as instituições para promover direitos da população que é vulnerabilizada e que merece especial proteção do Estado”, diz o defensor-geral da União, Leonardo Magalhães.
Também foi entregue durante a homenagem um ponto de tecnologia e internet do Ministério das Comunicações. O secretário nacional de telecomunicações Hermano Tercius realizou a entrega dos equipamentos e salientou a importância de as instituições estarem presentes no cotidiano das comunidades. “Fizemos a doação de computadores, instalação de conectividade satélite para internet, para somar com as ações dos outros órgãos. Tudo isso faz parte de um esforço coletivo para dar força e voz.”, complementa o secretário.