A Semana Nacional da Defensoria Pública foi encerrada nesta sexta-feira (24) com a oficialização de pouco mais de 60 casamentos de presos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, localizada na BR-174, zona Norte de Boa Vista. O evento teve a participação do Tribunal de Justiça, que atuou com a Vara de Justiça Itinerante.
Houve registros de união estável e conversão desse tipo de relacionamento em casamento civil. Casais homossexuais também decidiram se unir oficialmente no mutirão da Justiça, o que recentemente foi avalizado por uma resolução recente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que obriga os cartórios de todo o País a celebrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, seguindo os mesmos trâmites de casais héteros.
Frank Meireles, de 22 anos, e Wagner Nacimento, de 20, começaram a namorar há quatro meses na penitenciária. Presos há pouco mais de um ano, eles quiseram afirmar a união antes mesmo de saberem que a Justiça Itinerante realizaria o casamento coletivo na tarde desta sexta-feira.
Meireles, que cumpre pena por assalto, foi condenado a nove anos de prisão. Ele diz que ganhará liberdade no próximo mês e seu companheiro, que não quis dar entrevista, talvez saia somente em 2014. "Meu companheiro sai depois, acredito que daqui a um ano", disse.
Ao ser perguntado sobre qual crime levou o seu parceiro a ser preso, Meireles afirmou que não sabe. "Quando há amor, essas coisas são irrelevantes. Para mim não interessa saber do passado dele", garantiu.
O ex-motorista de caminhão Celso Rodrigues Filho, de 33 anos, e Rose Andrade Ramos, de 44, já se conheciam antes de ele ser preso há dois anos e meio, mas começaram a namorar há seis meses. Condenado a 17 anos por homicídio, Rodrigues não vê a hora de a pena acabar e começar uma nova vida. "Eu quero ter filhos, constituir uma nova família e voltar a trabalhar", confessou.
Ainda aguardando julgamento, Anderson Gomes, de 21 anos, não quis revelar à reportagem do G1 por qual crime está cumprindo pena. Ele está há pouco mais de um ano na penitenciária. Sua futura esposa, Viviane de Sousa Gomes, de 18 anos, o conheceu através de amigos comuns há dois anos e meio, antes da prisão dele.
O casal tem uma filha de um ano. "Amo minha família, estou muito feliz", disse. Viviane declarou que estava com o "coração acelerado" por estar se casando.
O pedido de casamento lhe causou surpresa, mas ela aceitou sem hesitar. Os pais do noivo também estiveram na cerimônia.
Autoestima
Vera Lúcia, presidente da Associação dos Defensores Públicos de Roraima (Adper), disse que o casamento resgata a autoestima dos presos e é uma maneira de reinserção na sociedade. "O preso sabe que tem alguém esperando por ele lá fora, uma família, e que vai ser visitado, e isso é estimulante. É ainda uma forma de recolocação no convívio social", afirmou.
Ainda segundo ela, a insistência em oficializar o casamento parte dos próprios presos na maioria das vezes, e não das companheiras. "Eles, por estarem encarcerados, se sentem vulneráveis. Nesse caso, o casamento é uma segurança", garantiu.
Além do "mutirão" de casamentos, durante a Semana Nacional da Defensoria Pública foram emitidos diversos documentos Carteiras de trabalho, certidões de nascimento e reconhecimento de paternidade fizeram parte dos serviços oferecidos pela Justiça Itinerante. Os presos e familiares também participaram de palestras, oficinas e tiveram acesso a vacinas.