Indígenas que têm uma longa trajetória de luta e resistência no Acre receberam a visita da defensora pública geral, Simone Santiago e representantes da Defensoria Pública do Estado (DPE/AC) na tarde desta segunda-feira, 29. Na aldeia Morada Nova, município de Feijó, o encontro reuniu lideranças da comunidade e professores da Escola Tekahayne Shanenawa, que aproveitaram a oportunidade para relatar experiências e também as necessidades de melhorias para as mais de 200 famílias que residem na comunidade.
A ouvidora geral da DPE/AC, Soleane Manchineri, que é a primeira indígena a ocupar o cargo de ouvidora geral no Brasil, foi a responsável pela articulação da agenda. Na oportunidade, foi feita uma homenagem para a defensora geral, Simone Santiago. "Me sinto honrada por receber esse lindo presente, uma peça única que ficará como um registro significativo dessa minha primeira visita a uma aldeia indígena no Acre. Soleane é uma ligação que nós temos de aproximação com os povos indígenas", disse ao receber o quadro contendo um tecido confeccionado artesanalmente por indígenas.
A imagem grafada no algodão, de acordo com Soleane Manchineri, é um Kene, grafismo Huni Kuin que conta as histórias ancestrais com variadas formas e significados, o que se considera como a geometria sagrada dos povos da floresta amazônica. "Estou há cinco meses na Defensoria Pública, como ouvidora, e nosso papel é estar à disposição e presentes nos lugares mais longínquos. Considero a Morada Nova como minha segunda aldeia e é uma grande emoção voltar aqui como representante de uma grande instituição que defende os direitos humanos", disse.
O defensor público Diego Victor Santos Oliveira, da 1ª Defensoria Cível de Feijó e a defensora Juliana Marques Cordeiro, do Subnucleo da Saúde em Rio Branco também fizeram parte da comitiva da Defesoria Pública presente na aldeia indígena. Mesmo estando organizando os preparativos para a festa de aniversário do cacique Carlos Brandão, os indígenas fizeram questão de preparar todo um receptivo, com direito a cânticos sagrados e a tradicional dança.
A Terra Indígena é Katukina/Kaxinawa e os povos chegaram na localidade na década de 1960, depois de vários conflitos e doenças. A permanência na terra foi marcada por dificuldades, como relataram os moradores. "Feijó é a cidade mais indígena do Acre e mesmo assim nossa luta é constante em busca de melhorar a vida do nosso povo. Criamos uma verdadeira resistência de ser índio e assim continuaremos a lutar pelos nossos direitos", comentou Eldo Shanenawa, professor e doutorando da Universidade Federal do Acre (Ufac).
A educação da população indígena foi um dos assuntos mais abordados na reunião. "A escola é uma ferramenta para garantir a preservação da nossa cultura e tradições. A nossa língua materna está em extinção. Aqui temos apenas 27 falantes, mas estamos na importante missão de criar um dicionário para estimular nossos jovens a dar continuidade e aprender a falar nossa língua. Somos do tronco linguítico Pano e temos nossa cultura fortalecida na medicina, nos grafismos, no Uni e na coletividade", expressou Eldo durante o encontro.