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Nº 55 - 22 de outubro de 2020
Luciana Salvador Borges
O artesanato brasileiro é considerado um dos mais ricos do mundo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a modalidade impulsiona a economia criativa no País e é responsável pela renda de aproximadamente 10 milhões de pessoas.
 
Para falar um pouco sobre esta arte, o "História de Defensora" desta semana traz uma entrevista especial com a defensora pública do Rio Grande do Sul Luciana Salvador Borges, que desde criança se aventurava com as linhas e agulhas. Hoje, no Instagram (@https://www.instagram.com/luhandmade02), ela mantém um perfil onde divulga suas peças em patchwork - a famosa técnica de emenda dos retalhos costurados. Há uma variedade com temática infantil, bolsas femininas e, nesta época de pandemia, máscaras faciais. 
 
Para a defensora, o artesanato não é uma fonte de renda, mas uma forma de terapia. Estudos na psicologia apontam que a técnica traz inúmeros benefícios, como expressão dos sentimentos, autoconhecimento, exercício da coordenação motora e estímulo da criatividade. Ela explica, por exemplo, que em vários estados, o trabalho do artesanato é utilizado para remição de pena (artigo 126 da Lei de Execuções Penais), sendo um excelente instrumento de incentivo à ressocialização da pessoa presa.
 
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
 
ANADEP - 
Há quanto tempo você é defensora pública? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?
Sou defensora pública desde 2003. Ingressei através do primeiro concurso da Defensoria Pública no Rio Grande do Sul. Na época, não tinha conhecimento sobre a instituição, mas como era recém-formada e pretendia prestar concursos na área jurídica, prestei o concurso para a Defensoria Pública. Posteriormente, acabei me apaixonando pela profissão.

Quando e como o artesanato entrou na sua vida?

Desde criança faço artesanato. Iniciei com um curso de crochê, aos 8 anos de idade, onde fazia sapatinhos de bebê e casaquinhos. Após, na adolescência, fiz muito tricô. Depois, passei a me interessar por bordados em ponto cruz. Quando vim residir em Canela, não tinha qualquer conhecimento na área da costura, mas logo fiz amizade com uma servidora da Defensoria de Gramado, que me apresentou ao mundo do patchwork e da costura critiva. Acabei ficando encantada e logo comprei uma máquina de costura e comecei a aprender a costurar.

Quais são suas fontes de inspiração?

O lugar onde moro e meus netos. As primeiras peças sempre são para eles... Algumas artesãs, como Dani Delinski, Carol Viana e Sara Lima que são muito conhecidas na área da costura criativa.

Você tem um ateliê ou compartilha espaços da casa para suas criações?

Acabei montando um ateliê de costura em uma parte da casa, onde tenho minhas máquinas e espaço para criar e costurar. Aproveito qualquer folga para isso, pois como tenho um espaço específico posso deixar para continuar de onde parei.

Que tipo de trabalho artesanal lhe proporciona mais prazer?

Gosto muito de fazer peças para maternidade, como capas de caderneta de vacinação, trocadores, porta-fraldas e bolsas, todas personalizadas com tema e nome da criança. Gosto de fazer também utilitários femininos, como nécessaires, carteiras e bolsas.

Quais materiais você costuma utilizar? Que equipamentos usa?

Tenho uma máquina de costura eletrônica doméstica, uma máquina bordadeira e recentemente adquiri uma máquina industrial. No início, eu utilizava somente tecidos estruturados, mas ultimamente também estou costurando com material sintético, por isso a necessidade de adquirir uma máquina de costura industrial.

Há algum artesanato típico da Região Sul?

Produtos com o emprego do couro bovino, como bainhas de faca, botas, guaiacas e malas de garupa. A lã de ovelha também é utilizada como matéria-prima, usada na confecção de tapetes, roupas, cobertas, em razão do inverno rigoroso. Podemos citar a cuia do chimarrão, feita com a fruta do porongueiro, o porongo. Esse artesanato típico do RS representa a cultura e hábitos do pampa.

Qual o diferencial e valor que o artesanato pode agregar? Você vê alguma importância social no artesanato?

Para mim, o artesanato atua como uma terapia porque traz paz de espírito e tranquilidade. A peça artesanal é única, personalizada e, por mais que seja buscada inspiração em outra, nunca haverá duas peças exatamente iguais. Participo de alguns grupos no Facebook e percebo que o artesanato também é muito importante para proporcionar renda e, consequentemente, coragem para libertar as mulheres em situação de violência doméstica e relacionamentos abusivos. Pode ajudar a proporcionar renda e aumento da auto-estima, bem como auxiliar no manejo das próprias emoções tanto entre adultos quanto em crianças e adolescentes.

O Sebrae afirma que no Brasil há 10 milhões de pessoas que vivem exclusivamente da renda gerada pelo artesanato. Você acha que é possível mesmo viver do artesanato? Quais os desafios e oportunidades?

Acredito ser possível viver exclusivamente do artesanato, mas muito difícil, pois nem todos valorizam o trabalho artesanal, que tem um preço maior em  relação aos industrializados. Acho necessário que o artesão procure atualização na área em que atua, pois há excelentes cursos gratuitos na internet e busque aprender sobre gestão, divulgação e marketing, além de investir na divulgação e comércio online.

E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
Acho que a Defensoria Pública deve procurar investir cada vez mais na conciliação e no trabalho extrajudicial para demonstrar para a sociedade nossa importância, principalmente no momento atual de ataques ao serviço público. Somos solucionadores de conflitos de forma efetiva. A ação judicial muitas vezes é imprescindível, mas a atuação extrajudicial traz mais efetividade, em meu ponto de vista.
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