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Nº 044 - 21 de maio de 2020
Patrícia Maria Magalhães Saavedra
A imposição de isolamento social, necessária para achatar a curva de transmissão do coronavírus, mudou radicalmente o cotidiano de milhões de pessoas ao redor do mundo. Se você está irritado, sentindo medo, angústia, tristeza ou com comportamentos ansiosos, como apetite em excesso, insônia e conflitos pessoais, saiba que você não está sozinho. Essas reações são “normais” em uma situação atípica, como a provocada pela pandemia da COVID-19. 
 
Estima-se que, numa situação como essa, se não houver intervenções, ao menos um terço da população pode vir a sofrer algum problema psicológico e social. 
 
Então, como preservar a saúde mental nesses momentos críticos? Para nos ajudar a compreender essa nova realidade da melhor forma possível, a defensora pública e psicóloga Patricia Saavedra concedeu entrevista exclusiva para a comunicação da ANADEP. Confira na íntegra:
 
 
ANADEP - 
Quando você entrou na Defensoria Pública? Por que decidiu ingressar na carreira?

Entrei no ano de 1994. Eu decidi ingressar na carreira após advogar por três anos, atraída pela estabilidade e pelo cunho social do trabalho da Defensoria Pública e sempre compreendi que a justiça é o exercício de uma medicina que chamo de social.  

Além do Direito, você também cursou Psicologia. Como foi esse encontro?

Entrei no curso de Direito em 1985. Na psicologia ingressei em 2010. O encontro foi por um insight que recebi ao atender partes envolvidas em ações criminais, entre outras. Eu desejava compreender sobre a mente, o comportamento humano e sobre a origem dos conflitos. Queria desenvolver a arte da escuta ativa, a percepção e a intuição, bem como utilizar os instrumentos postos para tornar efetiva uma mediação, caso possível, entre as partes envolvidas na lide ou para evitar que fosse necessária a ação judicial. Fiz também curso de formação em Constelação Familiar pelo IRALEM, cujo diretor é Ricardo Mendes, seguindo os estudos de Bert Hellinger. Atualmente exerço simultaneamente as duas profissões com muito amor. 

Nesses tempos de pandemia, a terapia de forma virtual ganhou espaço. Ela é tão efetiva quanto a presencial?
A terapia realizada de forma virtual já venho utilizando antes mesmo da pandemia, pois atendo clientes fora do estado do Rio de Janeiro. Ela é eficaz sim, apesar de ainda sofrer resistência por parte de alguns clientes, pois a questão é de adaptação. Claro que a terapia presencial oferece um contato que é importante na relação dialógica que se estabelece entre o psicoterapeuta e o cliente. Com a pandemia se percebeu que é possível ultrapassar essa barreira existente entre o virtual e o não-virtual. 
 
Não só em razão da pandemia, mas também pela otimização de tempo, deslocamento em razão de engarrafamentos, essa forma de terapia virtual vem ganhando cada vez mais força. Quando a terapia é presencial é possível que haja o contato, o abraço, o calor humano, porém a empatia pode ser exercida em ambas as formas, basta que o psicoterapeuta esteja presente e em presença disponível para o cliente e este também disposto a se auto-conhecer. Assim é possível acompanhar o cliente em seu processo de desenvolvimento. Algumas práticas de corpo (ex.: psicomotricidade) onde é necessário o toque corporal sofrem com a forma virtual nesse momento.
Como a psicologia pode auxiliar nos atendimentos da Defensoria?

Ajuda a nos aproximar mais do assistido, a compreender sua realidade, seu contexto, a relação deste consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Isso facilita a resolução dos conflitos, tanto na esfera judicial ou extrajudicial. 

A ameaça da pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19) pode trazer diversas consequências para a saúde mental. Como devemos trabalhar nossas emoções nesse cenário?
Viver o momento presente e manter o auto-controle e o equilíbrio, apesar de ser difícil em tempos de pandemia e isolamento social. Se não podemos controlar o que não se conhece, é importante dar um novo sentido à vida e rever valores, além de pausar para apenas contemplar, evitar pensamentos negativos e se esses vierem, praticar a meditação, yoga, reiki e outras terapias. Usar e abusar da criatividade, além de cuidar do corpo e manter alimentação adequada, respeitando nossos limites.  
Há muito mais fluxo e velocidade de informação hoje do que na época de outras pandemias. De que forma isso influencia o comportamento das pessoas em um cenário como esse? O efeito é mais positivo ou negativo?
O excesso de informação, sem critérios adequados e objetivos, produz efeitos negativos para o comportamento das pessoas, principalmente se são incongruentes, se criam instabilidade e desinformação e, ao invés de orientar, provocam o caos e aumentam o medo. Simplificar é uma arte e ajuda a que os processos caóticos possam se dissipar com o tempo.    
 
Quais são os efeitos psicológicos do distanciamento social e de uma quarentena? Isso impacta mais as pessoas idosas?

A pandemia Covid-19 foi um convite para o novo eu, nós e mundo. Todos fomos surpreendidos e esquecemos que não temos o poder de impedir a mudança. Não estamos preparados para lidar com o aleatório e com o acaso em nossas vidas, ainda mais quando uma pandemia nos limita e em quarentena, de tal maneira a que não tenhamos escolha e sem um norte, uma direção e o tempo de sua duração. Assim, mudanças dessa natureza nos desestruturam, porque se acredita que o mundo segue uma lógica, uma certa rotina. Eventos como morte, separação, demissões e desemprego já faziam parte de nosso cotidiano e geram angústia, medo, estresse, ansiedade, tristeza, depressão, frustração, etc. O distanciamento social como consequência da pandemia trouxe uma surpresa com espectro maior e o impacto atinge a todos em todas as fases da vida (infância, adolescência, juventude e maturidade). As pessoas idosas são consideradas em grupo de risco, em virtude de uma maior vulnerabilidade, diante da exposição e das comorbidades pré-existentes.        

Como conter a ansiedade ante o avanço da pandemia do novo coronavírus?
É importante aprender a contemplar, pausar, evitar pensamentos negativos e, se esses vierem, praticar a meditação ou outras terapias. Cuidar do corpo e manter alimentação adequada. Caso a ansiedade esteja interferindo de modo a perturbar o bem-estar em demasia, não hesite em pedir ajuda a um parente, amigo, vizinho, terapeuta, médico, a pessoa mais próxima a você ou um animal de estimação, por exemplo. A prática contínua de exercícios também ajuda e hoje podem ser realizados online. 
 
Diante do cenário de isolamento social, muitas empresas adotaram o sistema de home office para os funcionários. Como se adaptar a essa nova rotina em casa?
É  importante o estabelecimento de novas práticas de rotinas de trabalho, com segurança para ambos os interlocutores, disciplina e comprometimento com as tarefas a serem cumpridas, além de estrutura física e pessoal adequados, segurança de dados e informações de acordo com o veículo de comunicação utilizado. 
 
Que recado você daria aos brasileiros que estão, como outras pessoas no mundo, vivendo isolamento social e ansiosos com essa situação?

Faça sua revolução pessoal e desperte para um nova forma de ser no mundo, mais humana e empática. Seja paciente, não se cobre tanto e use esse momento para passar sua história a limpo. Viva o momento presente, simplifique e se permita conhecer melhor. Investigue quais são suas necessidades autênticas, desenvolva novas capacidades e habilidades e aprimore as que já possuía. Valorize o tempo, cultive também o não fazer, a pausa, a contemplação e reconheça que através da sua experiência de vida você se tornou quem é hoje e assim, apesar da pandemia, é possível olhar para trás e tomar a força para seguir adiante, com fé e esperança.     

E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
Acredito que o caminho para o fortalecimento da Defensoria Pública será trilhado através da consolidação de um diálogo efetivo, necessário e imprescindível entre todos os membros da Defensoria Pública entre si e com a sociedade, pautado pelo respeito, transparência, serenidade, temperança e bom senso na compreensão da realidade de cada um, seus desafios, peculiaridades e os anseios da categoria na busca da concretização de nossas prerrogativas, direitos, benefícios e atribuições, realizando da melhor forma possível nosso munus constitucional na prestação da assistência jurídica judicial e extrajudicial ao usuário do serviço público hipossuficiente. 
 
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