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Nº 020 - 9 de maio de 2019
Adriana Britto
Se você nunca viu uma apresentação de dança flamenca (ou flamenco) prepare-se para ficar fascinado. Primeiro vem as roupas das dançarinas e dos dançarinos: tecidos exuberantes, babados, leques, castanholas e muita cor. A dança é outra característica singular; uma mistura de força e de movimentos que traduzem infinitos sentimentos e liberdade de expressão.
 
Por si só, a dança flamenca tem uma história e um significado, não só para o povo espanhol, mas também para os mouras, judeus e, principalmente, ciganos. A dança é a mais verdadeira e harmônica integração entre arte, cultura e teatralidade. Ela contagia e faz lembrar de um passado distante, porém marcante, de um povo que, para aliviar a dor, usou a música como a mais bela forma de arte e desabafo.
 
No Brasil, o flamenco surgiu nos anos 50, quando os imigrantes espanhóis começaram a chegar no país. 
 
A modalidade é uma das paixões da defensora pública do Rio de Janeiro Adriana Britto, que fez sua primeira aula de flamenco na Espanha e já voltou ao Brasil procurando uma escola de dança para seguir aprendendo.
 
Para ela, dançar é sentir a fundo, sem censura. "É expressar o que sinto. É libertar o corpo. É compartilhar vida e o amor!".
 
ANADEP - 
Há quanto tempo você é defensora pública? Por que decidiu ingressar na carreira?
Sou defensora pública há 18 anos. Quando fui estagiária da Defensoria Pública me apaixonei pela instituição: lugar onde encontrei realização profissional e oportunidade de desenvolvimento como pessoa, especialmente em razão de ter trabalhado e convivido com o defensor José Augusto Garcia de Sousa, com quem aprendi o nobre valor da Defensoria e de servir ao público com dedicação e afinco. Foi uma experiência muito marcante que me fez reconhecer minha vocação. Desde o início me identifiquei totalmente com a profissão e não me via em outra carreira. Passei por vários órgãos do interior e da capital, aproveitando os desafios e experiências de aprendizado que cada um me trouxe.
Fora da Defensoria, um dos seus hobbies é a prática da dança flamenca. Como surgiu esse interesse?
Foram dois momentos. O primeiro, em 2010, em uma viagem para Espanha. Quando vi um tablado fiquei totalmente arrebatada pela emoção e força da dança e da música. Posteriormente, em 2011, fui estudar espanhol em Sevilha e a escola oferecia também aulas de flamenco. Então, resolvi experimentar. Foi a primeira aula que fiz lá para realmente me apaixonar e voltar ao Brasil procurando uma escola de dança para seguir aprendendo.
 
 
Foto: Guilene Conte
Teatro Tom Jobim 2016 e Teatro Oi Casagrande 2018
 
Tive aulas na Escola de Danza Mabel Martin, na Casa de Espanha e, posteriormente, fui para o Studio Gesto. Também busco fazer cursos e workshops no Brasil e na Espanha para me atualizar e me aprimorar na dança.
Quais são as principais características do flamenco?
O flamenco traz uma valiosa mistura de tradições e culturas de vários povos, como  os ciganos e os mouros, que se concentraram na região da Andaluzia. É algo popular que se dançava e cantava nas ruas, com letras que falam de coisas simples da vida e dos lamentos pela situações difíceis vivenciadas, por exemplo.
 
O flamenco evoluiu muito trazendo novos elementos, modernizando-se, sendo também objeto de sofisticadas e ousadas produções. De qualquer modo, o flamenco é vida pulsante, é sentir a dor e a alegria, é se expressar, é ritmo, é força dos “tacones” com a delicadeza dos braços, é uma conversa entre guitarra, cante e baile.
Há uma rotina de ensaios? Já participou de apresentações?
Ensaio três vezes por semana. Quando têm apresentações ou workshops a agenda fica mais intensa. Tenho me apresentado nos espetáculos do Studio Gesto, onde participo desde 2014.  A última apresentação ocorreu em dezembro de 2018, no Teatro Oi Casagrande. Além disso, me apresentei recentemente na mostra de alunos da XI Feira Flamenca, em São Paulo. Também atuo em vários tablados realizados no próprio Studio Gesto. O Projeto Gesto Solidário também é bem gratificante, pois leva a dança a orfanatos, asilos e outros locais. 
 
Foto:  Marcelo cortez
Teatro Cacilda Becker 2018
Para você quem são as principais referências da dança flamenca?

Tive a oportunidade de conhecer e me espelhar em excelentes profissionais, tanto no Brasil quanto fora. Carmen La Talegona foi muito marcante na minha trajetória, pois é uma bailaora cordobesa fenomenal que veio dar aulas no Brasil e participou de residências artísticas no Studio Gesto. Fazer suas aulas e assistir seus espetáculos trouxe uma vontade muito grande de evoluir, de me dedicar mais, de buscar ultrapassar os limites, vivendo intensamente a experiência e  sem medo de errar. Outros profissionais internacionais que admiro muito e com quem já tive oportunidade também de ter aulas são Jesus Carmona, Manuel Liñan, Rafaela Carrasco, Pastora Galván e Lucía La Piñona.

 
Foto: Guilene conte
Teatro Tom Jobim 2015
 

Do Brasil: minha professora e musa Eliane Carvalho, que é uma visionária e incentiva nossa dança e nossa melhor expressão; Milene Munoz, com a flamencura e a arte com a bata de cola; e Miguel Alonso, um cubano que vem dando aulas no RJ e é um artista super completo e me inspira muito também.

E para quem quer iniciar nessa modalidade? Qual a sua dica?
Pesquisar e procurar uma boa escola com bons profissionais. Começar sem medo, porque a dança é para ser leve e trazer liberdade ao corpo! Também recomendo buscar vídeos de bailaores e bailaoras que se apresentam nos principais tablados da Espanha, como Casa Patas e Corral de la Morería, além de ouvir música como Paco de Lucia, Vicente Amigo e Antonio Rey, porque a música alimenta nossa alma, nos conecta com nossa essência.
 
Foto: Guilene Conte
Teatro XP Investimentos 2017
Dentro do flamenco as mulheres têm uma presença e uma liberdade única no palco. O que podemos mencionar que diferencia a mulher dentro da dança flamenca a outros tipos de dança, por exemplo?
Em algumas danças a mulher é conduzida pelo homem. Em outras tanto mulheres como homem são "presos" a determinados passos que devem ser simétricos e perfeitos. No Flamenco existe uma estrutura e uma linguagem que devem ser seguidas, mas a expressão de cada pessoa é única e é valorizada. Então é um exercício mesmo de liberdade, independentemente do tipo físico todos podem dançar e se expressar!
Como é conciliar a atuação na Defensoria com a música e dança? A prática te ajuda no seu dia a dia de defensora?

Consigo conciliar bem. A dança ajuda a extravasar os sentimentos, a manter o equilibrio emocional e a desenvolver a sensibilidade e o lado artístico, que também na Defensoria Pública são necessários. Defensoria não é só técnica, é empatia. É arte do encontro de outras pessoas e de buscar a melhor solução sobre seus conflitos.

Pra você dançar é:
Sentir a fundo, sem censura. É expressar o que sinto. É libertar o corpo, compartilhar vida e amor!
 
Foto: Marcelo cortez
Teatro Tom Jobim 2015
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
Entendo que a Defensoria Pública deve ser cada vez mais proativa, aberta e participativa. Olhando seu público-alvo como parceiros e contruindo em conjunto soluções e caminhos capazes de alterar as desigualdades estruturais de nosso país. Vejo a necessidade de investimento cada vez maior também na busca da qualidade e eficiência do atendimento prestado pela Instituição e na construção de soluções consensuais para os conflitos.
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