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Nº 013 - 17 de janeiro de 2019
Rita Lima
Atuando na área de execução penal, a defensora pública do Distrito Federal Rita Lima encontrou na música, especificamente na bateria, uma forma de expressão. 
 
A bateria é responsável por ditar o ritmo da música. Sempre pulsante e imponente, o instrumento de percussão mais famoso da música popular como um todo contou com grandes nomes no rock and roll, como John Bonham (Led Zeppelin) e Keith Moon (The Who), que estão na lista dos 100 melhores bateristas de todos os tempos que a revista Rolling Stone divulgou. 
 
No dia a dia da Defensoria, Rita Lima trabalha para conferir direitos e garantias mínimas à pessoa presa. A defensora também integra o Grupo de Trabalho de Políticas para Igualdade de Gênero da DPDF, além de fazer parte da Coletiva de Mulheres Defensoras Públicas do Brasil e ser a coordenadora da Comissão dos Direitos da Mulher da ANADEP. 
 
Já na música, Rita também encontrou um espaço para dar voz aos direitos das mulheres. Ela toca na banda Xavosa, formada majoritariamente por mulheres e que exalta as músicas com letras feministas. Além de baterista, Rita também compõe: por conta da vivência na Defensoria, escreveu a letra de uma música pela primeira vez.
 
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
 
 
ANADEP - 
Há quanto tempo você é defensora pública? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?
Sou defensora pública há 11 anos. Me encantei pela Defensoria Pública já no final do primeiro ano de faculdade, quando iniciei meu trabalho como voluntária e, posteriormente, como funcionária da Defensoria Pública do Distrito Federal. A partir dessa experiência, tive certeza de que era o que eu queria fazer da vida.
Qual fato/caso na Defensoria Pública mais te marcou até hoje?
Muitos casos me marcaram desde o meu primeiro contato com a Defensoria. Meu primeiro atendimento me marcou muito. Eu recém tinha completado 18 anos e atendi uma senhora que buscou a DPDF para pedir a guarda de sua neta, pois a criança sofria abuso do padastro e não recebeu amparo no lar. Aquilo me chocou e me motivou a buscar a melhor formação técnica possível, mas, principalmente, a jamais esquecer da dimensão humana do nosso trabalho. Já fui em cartório registrar recém-nascido com mãe não alfabetizada (por recusa do cartório em fazer), em clínica de reabilitação verificar suspeita de cárcere privado de pacientes... Todas essas histórias me motivam a seguir no esforço de jamais esquecer o drama humano que nos é levado como problema jurídico.
Hoje, além da Defensoria Pública, você também está na música como baterista. Como você descobriu esse talento?
Eu sou uma pessoa muito musical desde criança, muito por influência de meu pai, também amante da música. Gosto de rock desde jovem e sempre quis tocar bateria, mas só tive a oportunidade de estudar música quando já era defensora. Então, comecei aulas e algum tempo depois montei bandas com amigos para descontrair aos finais de semana. Até que surgiu a Xavosa, minha primeira banda autoral.
 
Como surgiu a banda e quais projetos vocês já lançaram e têm para o futuro?
Xavosa surgiu assim: fui convidada para falar sobre feminismo em shows organizados por um amigo. A intenção era fazer uma roda de conversa no intervalo das bandas e promover uma reflexão sobre o machismo na cena underground. Depois disso, conversei com a Carol (guitarrista) sobre o quanto era importante nós também ocuparmos mais o palco. Daí resolvemos montar a banda. Carol falou com o Lucas (baixista), que convidou a Camila (vocalista). Já no primeiro ensaio, as músicas autorais foram sendo construídas e vimos que o grupo era coeso e tínhamos muito a dizer. Agora estamos finalizando um EP para divulgar parte do nosso material. Fizemos poucos shows (a banda tem pouco mais de um ano), ao lado de bandas amigas aqui do DF de punk /hardcore.  Vamos divulgar nossas músicas em canais de streaming. Por enquanto, parte do nosso material pode ser acessado na nossa página do Facebook: https://www.facebook.com/pg/xavosabsb.
 
Qual seu estilo musical preferido? Por quê?
Eu gosto muito de rock. Desde rock alternativo, passando pelo punk até o metal. Como baterista, essa é a minha principal referência. Mas ouço muito também música brasileira e black music. Minha família é carioca, então cresci ouvindo samba. É um estilo que também gosto bastante! Já o porquê, difícil dizer... Rock tem essa ideia do contestar, do confronto, algo que considero importante, mas há vários outros fatores que nos motivam a apreciar uma música. É difícil resumir.
Quem é sua inspiração no meio artístico?

Minha inspiração pessoal é minha professora Nathalia Reinehr. Ela transita muito bem entre vários estilos - desde o jazz, passando por ritmos latinos até o metal. É extremamente talentosa e, ao mesmo tempo, humilde. Quanto a bateristas de renome internacional, Brad Wilk (Rage Against The Machine) e John Bonham (Led Zeppelin) estão entre os que muito admiro.

A música te ajuda de alguma forma no seu dia a dia de defensora? O que mudou?
A música me ajuda a manter equilibro e me ajuda a cultivar sensibilidade. Compor me impõe exercer a criatividade. Além disso, tocar bateria é um excelente exercício para o cérebro, dizem (risos). Tudo isso influencia positivamente no exercício de minha função.
Como é conciliar as práticas da Defensoria Pública com a música?
É difícil, pois defensorar demanda muito tempo e energia. Deixo os ensaios para os finais de semana e tento praticar pelo menos uma vez por semana à noite. Por outro lado, por conta de minha vivência na Defensoria, escrevi a letra de uma música pela primeira vez. Ainda estamos trabalhando com ela na banda.
Como é vista a representatividade feminina na música?
Xavosa e representatividade têm tudo a ver, já que é uma banda majoritariamente feminina com letras feministas. Acredito que é possível transcender uma visão burocrática da defensora como "operadora do Direito" para que as usuárias e os usuários da Defensoria nos vejam como seres humanos com interesses diversificados.
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
A Defensoria Pública é uma instituição jovem e vem de um histórico recente de fortalecimento jurídico-institucional. Para crescermos é preciso que nossa batalha em prol da efetiva autonomia saia cada vez mais "do papel" e seja amadurecida nas práticas políticas. Acredito que estamos caminhando nesse sentido.
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