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Nº 005 - 13 de setembro de 2018
Rodrigo Delage
Defensor público na Defensoria Especializada em Saúde Pública em Belo Horizonte/MG
"Sou caipira, Pirapora..." é o trecho de uma das músicas mais populares e conhecidas da MPB. A canção de Renato Teixeira exalta o gênero caipira. Nascido em Belo Horizonte, o defensor público Rodrigo Delage está há dez anos na Instituição, e atua hoje na Defensoria Especializada em Saúde Pública, na capital. 
 
Rodrigo Delage passou boa parte da infância em Pirapora, localizada às margens do Rio São Francisco. É de lá que veio a paixão pela viola: instrumento que é a voz primeira do povo barranqueiro. 
 
Com estilo mais ligado à MPB, ele já lançou quatro discos e participou, inclusive, do processo de tombamento da viola como patrimônio imaterial do Estado pelo IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais). 
 
Para Rodrigo Delage, a viola, assim como a Defensoria Pública, são instrumentos de resistência.
 
Confira abaixo a íntegra da entrevista que ele concedeu exclusivamente à equipe de comunicação da ANADEP:
 

 

ANADEP - 
1) Há quanto tempo você é defensor público? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?
Neste ano de 2018 fiz, com muita honra e alegria, dez anos na carreira. Minha posse ocorreu em janeiro de 2008 e desde que decidi concorrer a um cargo público, minha opção foi pela Defensoria Pública. Concomitantemente ao concurso para ingresso na Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, prestei também o concurso para defensor público do DF, no qual fui aprovado e nomeado. Todavia, optei por permanecer em meu estado natal. A escolha pela Defensoria foi pelo viés humanitário que permeia a carreira. Decidi ser defensor em razão da possibilidade concreta de atuar por quem realmente precisa, sendo efetivamente instrumento de afirmação de direitos sociais e redução de desigualdade.
2) Hoje, além da Defensoria Pública, você também está na música. Como você descobriu esse talento?
Na verdade, a música vem bem antes da Defensoria. No início da minha adolescência iniciei os estudos de violão. Entretanto, passei boa parte da minha infância na cidade de Pirapora, localizada às margens do Rio São Francisco, no norte de Minas Gerais, onde a cultura popular é muito forte. Junto com a paixão pela natureza e pelo Rio São Francisco, veio a paixão pela viola, instrumento que é a voz primeira do povo barranqueiro. O contato direto com essa riqueza cultural me fez buscar o aprendizado da viola com os antigos mestres e tocadores, buscando aprender além da técnica “pura e simples”, também os valores e princípios que estão enraizados nesse instrumento tão significativo na formação cultural do povo brasileiro. A viola carrega o sertão dentro do bojo. Inclusive, recentemente, com muita alegria, participei do processo de tombamento, pelo IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), da viola como patrimônio imaterial do Estado de Minas Gerais.
3) Qual seu estilo musical preferido?
A viola, após sua chegada ao Brasil pelas mãos dos colonizadores portugueses, a partir do início do século XX, esteve muito ligada à música caipira. Contudo, atualmente o instrumento não está preso a determinado estilo musical, havendo diversos violeiros com lindos trabalhos de jazz, blues, rock, música erudita. Estilos que também aprecio bastante. Minha música está mais ligada à MPB, com influência da nossa cultura popular.
4) O que te inspira na composição de músicas?
Basicamente, a natureza. A natureza e o homem que nela se insere. O sertão e o sertanejo. Os rios com seu movimento que nos ensina a seguir sempre em frente...
 
 
5) Quais os projetos que você já lançou?
Tenho quatro discos lançados. Em 2003, gravei meu primeiro álbum autoral, o “Viola Caipira Instrumental”, com a participação dos violeiros Pena Branca (dupla Pena Branca e Xavantinho) e Chico Lobo. O disco foi premiado como melhor disco de viola do ano, pelo “Prêmio Nacional de Excelência da Viola Caipira”, de iniciativa da “Revista Viola Caipira” (publicação nacional sobre o gênero), no qual fui também premiado na categoria “melhor instrumentista”. 
 
Tive composições utilizadas em reportagens da TV Globo/Globo News, nos programas “Globo Rural” e “Mais Você”, e cedi também composições para vinhetas de arte e programação da Rede Minas de Televisão e diversas outras emissoras de rádio e TV. Compus trilhas para documentários exibidos em Festivais Nacionais e Internacionais de Cinema, como o “Cineport - 2004, Festival Internacional de Cinema da Língua Portuguesa” e o “Festival de Cinema de Gramado/2004”.
 
Em 2006, participei do “Dossiê Guimarães Rosa”, lançado pelo Instituto de Estudos Avançados da USP em comemoração ao cinqüentenário do romance “Grande Sertão: Veredas”, publicação que veio encartada com um cd recheado de músicas que abordam o universo sertanejo que inspirou o escritor, juntamente com os violeiros Tavinho Moura, Ivan Vilela, Paulo Freire e Renato Andrade, e os literários Antônio Cândido e José Mindlim.
 
Lancei meu segundo disco, “Águas de uma Saudade” em agosto de 2008, o qual foi eleito em 2013, melhor disco de viola do Prêmio Rozini de Excelência da Viola, com premiação nacional ocorrida no Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo, em junho de 2013.
 
Em dezembro de 2008, lancei o disco “Imaginário Roseano”, com João Araújo e Geraldo Vianna, uma homenagem ao centenário de nascimento do grande escritor mineiro João Guimarães Rosa, abrilhantado pelas participações especiais de Rolando Boldrin, Paulo Freire e Téo Azevedo.
 
Meu mais recente álbum é o “Périplo – Viola Caipira”, disco onde apresento minhas canções, dentre as quais, adaptação de versos da obra do grande poeta Manoel de Barros. Destaque também para regravações de Tom Jobim, Jorge Drexler e para parcerias com João Evangelista Rodrigues, Mourão Martinez e Rafa Duarte.
 
Todos os discos estão disponíveis nas plataformas digitais de música, como spotify, deezer e itunes. Quem quiser ter notícias dos lançamentos, pode acompanhar pelas redes sociais também (facebook e instagram).
6) Quem é sua inspiração no meio artístico?
Aprendi viola com os violeiros que fui buscando e encontrando pelo caminho, muitos deles, mestres que tocam sua viola por devoção, ligados a manifestações da cultura popular como folias de reis e congadas. Dos violeiros consagrados, me influenciaram diretamente Renato Andrade, Zé Côco do Riachão, Tavinho Moura e Almir Sater.
7) A música te ajuda de alguma forma no seu dia a dia de defensor? O que mudou?
Ajuda muito. A música me traz equilíbrio e sempre me aproxima do necessário caráter humano da minha carreira. A música é sentimento. E o sentimento nos aproxima das alegrias, sofrimentos e aflições daqueles que nos procuram em busca de cidadania.
8) Como é conciliar as práticas da Defensoria Pública com a música?
Uma tarefa que não é simples, contudo, entendo que a viola, assim como a Defensoria Pública, são instrumentos de resistência. A viola permaneceu durante boa parte de sua história, nas mãos de pessoas simples, “escondidas” nos grotões desse Brasil, lavradores e trabalhadores que, através dela, davam vida e voz aos seus sentimentos. Da mesma forma, vejo a Defensoria como instrumento de resistência jurídica, dando voz e vez àqueles que se encontram excluídos em seus direitos e muitas das vezes “escondidos” dos olhos da sociedade.
9) E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
Acho que é o caminho, que já vem sendo trilhado há anos, de aproximação das lideranças sociais e políticas para dar visibilidade cada vez maior ao trabalho que é feito pela Defensoria. O reconhecimento do valor deste trabalho é inevitável e inquestionável. À medida que crescemos como República e como Nação, a Defensoria cresce junto.
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