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Nº 014 - 31 de janeiro de 2019
Waldemar Menchik Júnior
"(...) O tempo é campo deserto,
E o vento apaga as marcas,
Mas há coisas que na tarca 
Deveríamos deixar escritas
E, dentre elas, uma habita,
O sentimento que tenho
Pois do lugar donde venho,
É memorial, coisa bonita.
 
Um quadro dependurado
Com a guarnição carcomida
Mostra uma foto esbatida
De quem jamais esqueci,
Foi com Ele que aprendi
Porque temos essa cultura
De apreciar almas maduras
Desde os tempos de guri." 
 
Trecho de poesia “Lá de dentro da moldura”
 
É assim, com poesia, que o defensor público Waldemar Menchik Júnior trabalha no dia a dia. Natural de Guarani das Missões, no Rio Grande do Sul, Waldemar é defensor há 18 anos e atua em Santo Ângelo, cidade conhecida como a Capital da Região das Missões. O nome Missões vem das reduções jesuíticas dos Guarani, que se edificaram no local entre séculos XVII e XVIII.
 
Em contato com a escrita desde muito cedo, o defensor gaúcho afirma que a poesia o ajuda a ter mais empatia, colocando-se no lugar do outro. "Sem fazer isso, jamais alguém pode ser um defensor(a) feliz", contou.
 
Seu primeiro livro conta com 26 poemas, em sua maioria, de cunho nativista. Na publicação há também poesias e crônicas que narram fatos marcantes da atuação na Defensoria Pública. O autor revela ter tomado a ideia de publicar as obras para que se conheça, com outro olhar, o trabalho da Instituição.
 
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
 
 
ANADEP - 
Há quanto tempo você é defensor público? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?
Iniciei minha carreira advogando. Entrei na Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul em 1999, quando passei no 1º concurso da Instituição. Foi uma dádiva. Lá, estou há 18 anos e me lembro até hoje que, nos primeiros anos, tínhamos uma remuneração bastante desigual em relação às outras carreiras jurídicas.
Hoje, além da atuação na Defensoria, você também é poeta. Por que escolheu o poema como forma de expressão?
Na região das Missões, no Rio Grande do Sul, de onde sou nativo, o contato com a poesia é muito comum, desde muito cedo. Daí que provém minha ligação com a temática rural ou interiorana. Nos meus textos utilizo também histórias de processos judiciais e júri, em especial, quando possível.
Quais são suas obras publicadas?
Tenho apenas um livro publicado: “Das frestas das labaredas”. O livro tem 26 poesias, quatro delas de temáticas jurídicas e três crônicas, que serviram de insipiração para um futuro livro. Nessas crônicas, a temática é a nossa atividade, com seus sonhos, desencontros e singular humanização.
 
Vale ressaltar que, por ser um livro de poesia nativista e com conteúdo técnico sobre  a Defensoria Pública, muitas palavras e jargões se encontram na linguagem gauchesca e jurídica, respectivamente. Para facilitar a compreensão de todos os leitores e permitir um contato maior com a literatura, todas as expressões de tradição gaúcha e do vocabulário jurídico são explicitadas conceitualmente ao final de cada poesia.
 
As pessoas têm utilizado mais o meio virtual que o físico para leitura. Como o senhor avalia que as pessoas possam ser incentivadas a lerem livros físicos?
"O pior castigo que recebe quem não lê, é ser dominado pelos que leram”. O início do apego à leitura deve-se estar no lar de cada um, espalhando livros nos cômodos onde a criança dorme, como fazia minha mãe, Odila Weinert Menchik. Já nas escolas pode-se incentivar visitas de escritores e apoio dos professores. Outra coisa importante é que a leitura de livros impede ou dificulta a crença nessa verdadeira usina de fake news que se transformou nossas redes sociais.
Como é conciliar o trabalho na Defensoria com a prática da escrita?
Nosso trabalho até ajuda na escrita, haja vista que trabalhamos com a seara social, de onde provém os temas mais belos e poéticos.
Os poemas também te ajudam de alguma forma no seu dia a dia de defensor?

Ajudam a ter mais empatia, colocando-me no lugar do outro. Sem fazer isso, jamais alguém pode ser um defensor(a) feliz.

A Defensoria e as histórias dos usuários te inspiram? Se sim, de que forma?
Com certeza, embora no meu primeiro livro tenha apenas quatro poesias e as três crônicas que abordam nosso trabalho. É que os dramas e as alegrias humanas com que trabalhamos são uma inesgotável fonte de inspiração. A vivência institucional é uma lição para quem acha que a vida é difícil. Difícil é a vida dos usuários dos nossos serviços. Eles são o combustível para o crescimento de uma Instituição cada vez mais humanizada. Apesar de sabermos que a Defensoria ainda é pouco valorizada pelos segmentos sociais, os quais, esquecem que todos são iguais perante a lei.
Existe algum(a) escritor(a) que te inspira?
Victor Hugo, Dostoiewski, Tolstói e Eduardo Galeano. Dos poetas destaco Pablo Neruda e, do Rio Grande do Sul, o Jayme Caetano Braun. Admiro a estes, em especial, porque o que escreveram foi gestado do sofrimento próprio e alheio.
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
A sociedade brasileira ainda tem preconceitos com a nossa atividade, principalmente no campo penal. Mas todo aquele que nos conhece, sabe que fazemos um trabalho humano, digno e de qualidade. Falo isso de todos os colegas que têm orgulho de dizerem-se defensores(as) públicos(as).
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