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Nº 009 - 08 de novembro de 2018
Eduardo Cavalieri Pinheiro
Natural de São Paulo, Eduardo Cavalieri ingressou na Defensoria Pública de Minas Gerais em uma data especial: o tão celebrado dia 19 de maio – dia nacional da defensora e do defensor público. De lá para cá, já são 13 anos. Hoje, ele está à frente da Defensoria de Urgências Criminais, ou seja, atende pessoas que são presas em flagrante e, muitas vezes, conversa também com os familiares, que querem notícias de seus parentes e do resultado das audiências de custódia.
 
Mesmo com a rotina intensa, Eduardo Cavalieri reserva suas horas vagas para praticar o budismo – filosofia que tem a paz, o amor e a harmonia como seus fundamentos. 
 
Originário da Índia, o Budismo surgiu por volta do século VI A.C. e abrange diversas tradições, crenças e práticas baseadas nos ensinamentos: o Buda (como seu mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a comunidade budista). Para alcançar o ápice espiritual é preciso encontrar-se nesse tripé. 
 
Para falar da sua relação com o budismo, o defensor público narra sua viagem, em 2014, ao Vietnã. Ele participou do VESAK - celebração que marca o nascimento, iluminação e falecimento de Buda Gautama. Segundo ele, o evento é promovido anualmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e conta com a participação das escolas budistas de todo o mundo. Lá, são apresentados artigos acadêmicos a respeito da relação entre ensinamentos do Buda e as metas de desenvolvimento da ONU. 
 
De acordo com o censo de 2010, há, aproximadamente, 245 mil budistas no Brasil. Cavalieri é budista há 23 anos.
 
 
Confira abaixo a entrevista que ele concedeu exclusivamente à equipe de comunicação da ANADEP.
ANADEP - 
Há quanto tempo você é defensor público?

Eu tomei posse após o IV Concurso para a Defensoria Pública. A solenidade ocorreu no dia 19 de maio de 2005, dia do defensor público. Comecei atuando na área criminal, nas varas de tóxico da capital mineira, onde permaneci durante três anos. Depois, quando da minha titularização, fui para Contagem, onde atuo até hoje na área criminal, tendo ficado dois anos afastado em razão da presidência da associação local (ADEP-MG). 

Qual fato/caso na Defensoria Pública mais te marcou até hoje?
Há alguns anos, fiz um pedido de habeas corpus para mulher em situação de rua acusada de homicídio. A paciente tinha afirmado que um homem havia tentado lhe estuprar, tendo ela se aproveitado de um momento de distração do agressor para se defender com golpes na cabeça. Ela mesma chamou a polícia e não havia outra versão no auto de prisão em flagrante. A magistrada havia indeferido o pedido de liberdade provisória argumentando que a paciente era moradora de rua. No processo argumentei que se falta de residência fixa fosse motivo para negar a liberdade, nem Jesus e nem Buda poderiam ser soltos, se por acaso fossem presos. O Tribunal de Justiça concedeu a ordem e a moça foi solta. 
Em 2014, você fez um viagem especial ao exterior onde participou do VESAK - celebração que marca o nascimento, iluminação e falecimento de Buda Gautama. Quais países você visitou nesse período? Conte-nos sua experiência.
Em 2014 eu fui ao Vietnã representando o meu centro budista com o meu professor. O evento é promovido anualmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e promove o encontro das mais variadas escolas budistas de todo o mundo. São apresentados artigos acadêmicos a respeito da relação entre ensinamentos do Buda e as metas de desenvolvimento da ONU. Trata-se de um campo fértil para o debate e troca de experiências. O Vietnã é um país incrível, tanto pelas paisagens naturais, quanto pelo seu povo, que recebe bem os visitantes. No ano seguinte eu fui novamente chamado para o evento, que dessa vez aconteceu na Tailândia, onde está sediada a ONU na Ásia. 
 
 
Há quanto tempo você é budista?
Há 23 anos. Tornei-me budista ainda na adolescência. 
Como você descreveria o Cavalieri antes e depois do Budismo?
Antes do budismo, eu era mais iludido com o mundo do que sou hoje e mais inquieto, com certeza. Só não consigo medir o quanto isso se deve ao budismo e o quanto isso se deve à experiência. 
 
Para quem quer conhecer um pouco mais sobre o budismo, quais livros, filmes ou documentários você indicaria?
O melhor livro que já li sobre o tema é "No que os Buddhistas Acreditam", de autoria do Venerável Dr. K. Sri Dhammananda. Ele contextualiza muito bem o budismo com os temas atuais.
 
Uma das características do Budismo são os ensinamentos de compaixão, humildade e simplicidade. Como você vê a relação da sua filosofia de vida hoje com a profissão de defensor público?
Uma das coisas que aprendi nessa caminhada foi que não existe, na verdade, pessoas boas e pessoas más. As pessoas agem em desacordo com o que é considerado certo em razão de ignorância. Pode ser a ignorância do que é certo ou das consequências de suas ações no mundo. Por isso é necessário agir com karuna (compaixão), pois certamente agiríamos da mesma forma se estivéssemos no lugar do outro. Outro ensinamento fundamental do budismo é de que todos os seres são interconectados e nossas atitudes impactam nessa rede. 
 
Hoje um dos maiores problemas da sociedade é a depressão e a ansiedade. Como a meditação - uma das práticas do budismo - pode auxiliar as pessoas que estão passando por isso?
A meditação pode ajudar de duas formas. Tanto no autoconhecimento, na possibilidade de lançar um olhar inteligente sobre si, quanto na tranquilidade que pode ser obtida durante a prática. Os resultados podem variar de acordo com os praticantes e com as técnicas utilizadas. Por isso existem tantas escolas budistas. 
 
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública
A Defensoria Pública precisa ser enxergada como investimento, como instrumento de cidadania. Só se é cidadão de verdade se os direitos previstos em lei forem efetivados. Isso significa assegurar à Defensoria Pública os meios para tirar esses direitos do papel e transformar promessas em realidade. Infelizmente a triste realidade hoje é a falta de estrutura e de membros. Em Minas Gerais, por exemplo, temos um pouco mais da metade do que seria ideal para atender à população mais necessitada e muitas cidades não são atendidas, por mais que os colegas se desdobrem. 
 
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