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Nº 002 - 2 de agosto de 2018
Maria José Silva Souza de Nápolis
Defensora pública-geral do Distrito Federal
Maria José Silva Souza de Nápolis nasceu em Cruzeiro do Sul, no Acre, e a distância de mais de 2 mil quilomêtros não foi tão grande comparado ao tamanho do seu sonho de cursar Direito e ser defensora pública. Maria José vem daquelas típicas família do interior, com muitos irmãos. Só ela, tem oito.
 
Uma origem humilde, mas com muito amor. Seus pais, mesmo com pouca instrução, sempre incentivaram que os filhos estudassem. E foi com esse exemplo e contando também com ajuda de terceiros, que Maria foi seguindo os passos para construir sua carreira.
 
Primeiro, cursou pedagogia na Universidade Federal do Acre, pois não tinha o curso de Direito na cidade e os pais não teriam condições de sustentá-la em outro lugar, ainda que ingressasse em uma universidade pública. 
 
Em uma reviravolta do destino, ela acabou indo para Jataí, no Goiás. Assim que chegou, prestou vestibular na universidade local. O primeiro sonho se realizou: passou para o curso de Direito.
 
Já em 2007, Maria José passou para o concurso da Defensoria Pública do Distrito Federal. Onze anos depois, tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de defensora pública-geral do Distrito Federal. Quer saber mais sobre a vida de Maria José? Confira abaixo a íntegra da entrevista que ela concedeu exclusivamente à equipe de comunicação da ANADEP:
 

"Histórias de Defensora" destaca trajetória da 1ª mulher à frente da Defensoria Pública do DF
ANADEP - 
1) Maria José de Nápolis você é a primeira mulher a ocupar o cargo de defensora pública-geral no DF. Como você observa esta questão hoje em um momento em que se discute fortemente as questões da igualdade de gênero na Instituição?

Realmente é uma marco na história da Defensoria Pública do Distrito Federal. As mulheres ainda são minoria em cargos de poder e isso é fruto de um processo histórico e comportamental. Em uma instituição composta, em sua maioria, por mulheres, como é o caso da Defensoria Pública do Distrito Federal, a representatividade feminina em cargos de poder é especialmente relevante e quebra paradigmas. Mas é fato que ainda precisamos continuar avançando na abertura desses espaços femininos de poder.

2) Como foi sua infância? Seus pais sempre incentivaram sua carreira/estudos?
Nasci em Cruzeiro do Sul, no Acre. Meus pais, desde cedo e mesmo com pouca instrução, incentivaram bastante os meus estudos. Eu lembro que minha mãe achava que nota boa só significava tirar 9,0 ou 10,0 nas avaliações. Vivia falando que só com os estudos poderíamos “ser alguém na vida”. Outra coisa que sempre ouvia era que mulher tinha de ser independente. Isso era muito moderno para quem, como minha mãe, nasceu, na década de 40, no interior do Amazonas. Mas ela, com toda simplicidade do mundo, sempre foi uma mulher batalhadora e à frente de seu tempo.
 
Minha mãe trabalhava fazendo serviços gerais e meu pai era pedreiro. Trabalhavam de sol a sol e ganhavam muito pouco. Às vezes, não tínhamos o básico e recebíamos ajuda de terceiros. Mas toda essa realidade me influenciou positivamente também. Eles tinham força, garra e honestidade. Não tinham bens materiais, mas princípios sólidos que nos influenciaram ao longo de nossas vidas. E também tinham o que dá sentido a toda uma vida: amor, muito amor pelos filhos.
 
Tenho oito irmãos. Meus pais trabalharam muito para nos manter na escola. Meus irmãos mais velhos, desde pequenos, já ajudavam meu pai no serviço de pedreiro ou, por vezes, engraxando sapatos e vendendo lanches na rua e escolas. Contudo, embora meus pais não tivessem passado do que chamávamos de ensino primário, escola, lá em casa, era obrigação. Todos nós estudamos em escola pública e nunca abandonamos a escola. Hoje, dos nove filhos de meus pais, oito têm curso superior e todos uma profissão digna.
3) Você morou até quantos anos no Acre? Qual sua maior lembrança de lá?
Morei até os 18 anos no Acre. Minha maior lembrança, sem dúvida, eram os dias que passávamos todos juntos. Minha família é grande e a diferença de idade entre os irmãos muito pequena. Tínhamos uma relação familiar muito sólida e bonita. Claro que passamos muitas dificuldades, principalmente quando ainda era criança, mas a pobreza não conseguiu tirar a alegria de nossos dias.
4) Como veio parar em Brasília? Foi uma escolha ou acaso?
Foi meio por acaso. Aos 17 anos, passei no vestibular da Universidade Federal do Acre para o curso de pedagogia e, no primeiro ano de faculdade, conheci o pai do meu filho. Casei e mudamos de Cruzeiro do Sul para Jataí, em Goiás, por conta do trabalho dele. Desde os catorze anos, já sabia qual o curso que queria fazer: Direito. Tinha decidido quando, em uma aula de história, a professora da escola pública em que estudava resolveu levar a turma para assistir a um júri no fórum local. Fiquei encantada e, dali em diante, resolvi que seria aquele o curso da minha vida. Ocorre que, no início, não tinha condições de prestar o vestibular para Direito, já que, na minha cidade, não havia essa possibilidade e meus pais não teriam condições de me sustentar em outro local, ainda que ingressasse em uma universidade pública. Assim, tão logo cheguei em Jataí, já prestei o vestibular, em uma universidade local, e ingressei na faculdade para fazer o curso da minha vida.
5) Quais trabalhos que você exerceu antes de ser defensora? Qual foi seu primeiro emprego e/ou estágio?
Fui estagiária do TJGO nos últimos anos de faculdade. Logo que formei, comecei a trabalhar como assessora de um Promotor de Justiça. Após, fiz um concurso interno para exercer o cargo de assessora de procurador de Justiça na cidade de Goiânia. Era apenas uma vaga e eu consegui. Em Goiânia, fiquei sabendo do concurso para Defensor Público do DF e resolvi me inscrever. Assim, dois anos após me formar, ingressei na Defensoria Pública do DF.
 
6) Você sempre sonhou em ser defensora? Como foi seu ingresso na Instituição?
Desde o último ano de faculdade, comecei a estudar para concursos públicos. Durante os anos anteriores de faculdade, também procurei aproveitar bastante. Era muito apaixonada pelo curso e isso ajudou bastante nos estudos. Logo que formei, passei a trabalhar oito horas por dia. Ficou bem difícil estudar. Acordava cinco horas da manhã para estudar antes do trabalho. Também estudava no meu horário de almoço e após o trabalho até perto de meia noite. Chegava a gravar a legislação, em áudio, para poder ouvir enquanto ia e voltava do trabalho. Não tinha fins de semana e nem feriados, mas tudo valeu à pena.
 
Ingressei na Defensoria Pública do Distrito Federal no ano de 2007.O meu amor pela Instituição surgiu com o trabalho. No decorrer do meu primeiro ano como defensora pública, percebi que era ali o meu lugar. Ajudar os mais necessitados, promover o rompimento do muro invisível da exclusão. Naquele primeiro ano, eu percebi que era essa a luta que eu queria para a minha vida e para o meu futuro.
 
Portanto, para quem ainda está nessa fase de estudos, só tenho um conselho: persevere, seja disciplinado e tenha fé em você.
7) Tem algum sonho que ainda queira realizar?
Difícil dizer. Tenho uma família muito querida, um filho que é a minha vida e um marido excepcional. Tenho amigos queridos e uma profissão que amo. Posso dizer que me considero uma pessoa realizada e feliz. Mas eu gostaria que todas as pessoas tivessem iguais condições de oportunidades, que todos tivessem uma vida digna e educação de qualidade.
 
8) E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
A ANADEP tem fortalecido o nome da Defensoria Pública com sua atuação relevante a combativa. Uma instituição somente se torna forte com a soma dos esforços de todos os seus atores e a ANADEP tem exercido um papel crucial nesse processo de fortalecimento e projeção nacional da Defensoria Pública. Eu não tenho dúvida de que o meu desejo é o desejo de todos os Defensores Públicos do Brasil: tornar o nosso mundo um lugar melhor, em que as pessoas tenham iguais oportunidades e trazer para os excluídos a esperança de condições melhores. E nós perseveraremos nessa missão. Ela nos é muito cara e traz todo sentido à nossa existência.
 
 
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