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25/06/2019

RJ: Defensoria dialoga com pessoas em situação de rua

Fonte: ASCOM/DPE-RJ
Estado: RJ
"Quando é que você vai pensar que a calçada de passear vai virar seu lugar de dormir? Ninguém está na rua porque quer". A fala é de Vânia Rosa, que já viveu nas ruas e hoje integra de rede de solidariedade e foi voluntária na ação realizada na noite de terça-feira, dia 18 de junho, em frente à sede da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.
 
Em roda de conversa, defensores públicos, servidores, estagiários, parceiros e pessoas em situação de rua reuniram-se sob a marquise da DPRJ para dialogar sobre normas básicas de convivência no local.
 
No trecho de calçada na Avenida Marechal Câmara,  que à direita faz limite com o prédio do Ministério Público e, à esquerda, termina em esquina de pouco movimento, já há mais de três anos a instituição convive com um expressivo fluxo de pessoas que ocupam o local para dormir. 
 
Existe já, desde a administração anterior, acordo feito pela instituição sobre o horário de permanência, que é das 18h às 6h. As pessoas que ali dormem eram, no início, em sua maior parte trabalhadores sem vínculo que pernoitavam na rua de segunda à sexta para economizar o dinheiro da passagem. Esse perfil mudou.
 
Atualmente, a maior parte dos que passam a madrugada encostados ao prédio da Defensoria são pessoas desempregadas, nas mais variadas idades, sem qualquer tipo de ocupação, afastadas dos familiares, a maioria com problemas devido ao consumo de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. Vivem em estado de vulnerabilidade extrema. 
 
Todos desempregados, mas com algum estudo. Em meio a população de rua tem gente até mesmo com formação técnica, como Vinícius, que é aluno do projeto Acelerando a Escolaridade, iniciativa da DPRJ que oferece aulas de língua portuguesa, matemática, história e geografia para pessoas em situação de rua.
 
Vinicius conta que é técnico de petróleo e gás e, em razão da idade, encontra dificuldade para conseguir emprego. "Fiquei desempregado aos 55 anos. Acabei morando na rua. Estou no Acelerando, estudo na biblioteca, e gostaria de dizer que sou muito bem recebido aqui e todos me tratam com dignidade", disse.
 
Ao lado de Vinícius, há Jorges, Angelas,  Allans... Brasileiros em situação de vulnerabilidade extrema e sem políticas públicas capazes de lhes garantir abrigos dignos. A miséria em geral esbarra também em problemas na relação com a família. Esse é o caso de Ângela Maria Laureano, de 63 anos. Ela conta que já passou dois natais sob a marquise da Defensoria. É cozinheira. Reclama dos joelhos inchados e diz gostaria de se aposentar. Recusa-se a declarar onde moram os parentes, que segundo ela vivem num barraco de tábua, onde são obrigados a levantar os colchões parar andar durante o dia. 
 
"Prefiro viver na rua, sem perturbação. Vivo na minha. Chego cedo aqui para marcar lugar",  afirma.
 
Jorge é mais jovem. Natural de Pelotas, no Rio Grande do Sul, se apresentou na roda dizendo que "por falta de planejamento caiu na rua". Conhece as malocas (como chama os locais onde as pessoas dormem na rua) da redondeza. Já dormiu no chão da Central do Brasil, mas sente-se mais seguro na calçada da Defensoria. Revela sua indignação em relação à falta de cuidado com o lixo no Rio de Janeiro. 
 
"Aqui o sujeito pega uma bala, tira o papel e solta. Lixo é no lixo. A gente quer muito a lixeira aqui. Porque quem sofre na pele devido aos restos de comida que ficam por aí somos nós mesmos. A gente é que acorda de madrugada com rato procurando comida debaixo do nosso cobertor",desabafa. 
 
Para quem faz da marquise teto e da calçada a cama mais fria e dura, as necessidades mais urgentes incluem a instalação de lixeiras, banheiros químicos e água para beber e fazer higiene.
 
A roda de conversa foi iniciada por volta das 20h, após o término do atendimento. Quarenta pessoas em situação de rua responderam a um questionário aplicado com o objetivo de levantar a situação de cada um, com perguntas sobre o tempo em que estão na rua, se desejavam ser encaminhados para tratamento e abrigo, se precisam de documentos e sobre os parentes. Alguns receberam encaminhamento para atendimento posterior do Núcleo de Defesa do Direitos Humanos (Nudedh).
 
A defensora pública Carla Beatriz Nunes Maia, coordenadora do projeto Ronda de Direitos Humanos, realizado junto a pessoas em situação de rua em parceria com a DPU, e que foi vencedor do Prêmio Innovare em 2018, na categoria Defensoria Pública, destacou a importância do diálogo, inclusive para a boa convivência. 
 
"A gente sabe que vocês não ficam nos lugares onde não se sentem seguros. E de fato, as ruas não são seguras. É bom saber que vocês se sentem seguros aqui. Por isso, precisamos alinhar formas de conviver", disse a defensora que atua no Nudedh.
 
A roda de conversa foi organizada pela Chefia de Gabinete, Coordenação de Mediação, Nudedh, Coordenação de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e Coordenação de Programas institucionais, com a participação voluntária de defensores, servidores, estagiários e parceiros.  
 
Como um bastão da fala, um ramo de flores vermelhas foi passando de mão em mão na roda de conversa, garantindo a todos e todas a oportunidade de falar e ser ouvido.
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