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Nº 039 - 27 de fevereiro de 2020
O Brasil é um paraíso para os amantes da boa cozinha: a culinária brasileira é rica, saborosa e diversificada. No Norte, as comidas típicas possuem uma riquíssima tradição, que mesmo se modificando e recebendo influência de outras gastronomias, ainda apresenta uma forte herança indígena. 
 
No Pará, entre os ingredientes mais utilizados na cozinha estão os crustáceos, como o camarão, o caranguejo e o marisco. Carnes de aves, como a de pato, também são muito apreciadas.
 
O maior estado do Brasil, Amazonas recebeu influências da cozinha portuguesa e africana. Quase todos os alimentos utilizados são extraídos da riquíssima mata Atlântica. Frutos, peixes e raízes como a mandioca são os ingredientes mais tradicionais. Nos ensopados são usados o leite de coco e o azeite de dendê.
 
E se juntassemos a culinária do Pará com o do Amazonas? Pois é assim que o  defensor público Inácio de Araújo Navarro faz diversas receitas. Ele nos contou sobre essa paixão.
 
Confira na íntegra: 
 
ANADEP - 
Há quanto tempo você é defensor público? Por que decidiu ingressar na carreira?
Ocupo o cargo de defensor público há dois anos e meio. O caminho foi longo, mas valeu muito a pena tudo que passei para chegar até aqui. Recebi a carteira da Ordem dos Advogados em 2008. No ano de 2012, após cinco anos de formado, em meio a uma grande crise existencial entre continuar advogando ou investir na carreira de cozinheiro, a Defensoria Pública surgiu na minha vida como uma paixão arrebatadora, por tudo que ela representa no nosso país e pela sua missão de dar voz e tirar da invisibilidade dos vulneráveis, promovendo dignidade como instrumento de transformação social. Fui nomeado em 2017 na Defensoria Pública do Estado do Amazonas, justamente no ano em que a Defensoria Pública foi eleita a instituição mais importante do Brasil.
 
E a sua história na culinária, como começou?
O meu amor pela cozinha despertou ainda quando criança, época em que comecei a frequentar o Mercado do Ver-o-Peso, em Belém, na companhia dos meus pais. Depois fui crescendo e passei a me arriscar no fogão. Aliás, desde a minha adolescência que meus familiares e amigos servem de cobaias para as minhas receitas. São os meus maiores incentivadores.
 
Ano após ano, a gastronomia vem ganhando um novo status, sobretudo em função dos programas de TV, cada vez mais numerosos. O que acha desses realitys de culinária?
A gastronomia, como ramo de conhecimento, compreende a culinária, as matérias-primas usadas na alimentação e todos os aspectos culturais a ela associados. Acredito que os realitys ajudam a democratizar o acesso às novas culturas e informações. Entretanto, confesso que é difícil compreender um país que bate recordes na produção agrícola, que possui uma culinária rica e diversificada, enquanto que a fome é um elemento presente no convívio de um número preocupante de brasileiros. Assim, arrisco a dizer que esse novo status requer a observância da sua função social pela influência que a TV exerce sobre a sociedade.
 
O que você mais aprecia na culinária brasileira?
A diversidade de ingredientes, cores e sabores na culinária brasileira é fantástica, principalmente quando se fala do Pará e do Amazonas. Não é à toa que a cozinha do Norte do Brasil tem despertado bastante interesse pelo restante do país e do mundo. No Amazonas, adoro banda de tambaqui assado acompanhado de baião e farofa de banana com farinha de Uarini. No Pará, a tradicional maniçoba do Círio de Nazaré e o açaí com filhote frito.
 
De onde vem sua inspiração? O que sai da sua cozinha?
Sou filho de uma professora paraense com um engenheiro florestal amazonense, ou seja, um típico paranauara. Cresci vendo meus pais cozinhando aos finais de semana, principalmente os pratos típicos do Pará (maniçoba, caldeirada de filhote no tucupi, peixe frito com açaí etc.). Quando morava no Pará, costumava reunir os amigos para fazer pizza a lenha com queijo do Marajó e jambu aos sábados. No Amazonas, minha esposa e meus amigos têm gostado do caranguejo com farofa que faço. E de sobremesa, bolo de maracujá recheado.
 
Como você avalia a culinária brasileira fora do Brasil? Ela é valorizada?
Os estrangeiros que conheço demonstram apreciar bastante nossa gastronomia. Nossa diversidade desperta uma mistura de sensações e sabores singulares. A experiência com os pratos envolve, além do paladar, o aroma e o visual, que provocam sensações peculiares, principalmente em relação aos ingredientes amazônicos como o tucupi, a maniva, a chicória do Amazonas, o jambú, o aviú, a castanha-do-pará (do Brasil), o queijo do Marajó, a farinha de Bragança e muitos outros.
 
Você tem admiração por um chef em especial?
O saudoso Paulo Martins, o maior nome da culinária paraense e embaixador da cozinha da Amazônia. Ele foi uma dos maiores responsáveis pelo movimento de valorização da gastronomia brasileira em nível nacional e internacional. Foi o idealizador do principal festival gastronômico da Amazônia, o “Ver-o-Peso da Cozinha Paraense”, que acontece em Belém do Pará.
 
No universo da cozinha, teoria e prática têm o mesmo peso?
A teoria é sempre importante, mas a prática é insubstituível. Grandes chefs brasileiros nunca frequentaram um curso de culinária, porém são pessoas que possuem uma sabedoria ímpar quando o assunto versa sobre a cultura gastronômica. Basta observar a grande quantidade de chefs renomados que têm visitado a Amazônia para aprender com a sabedoria dos nossos conterrâneos. O maior exemplo disso é o Paulo Martins, que era arquiteto de formação, mas comandou um dos restaurantes mais famosos de Belém por muitos anos e se empenhou em divulgar nossas receitas típicas e contribuiu para que ingredientes característicos da culinária paraense e do Norte ficassem conhecidos e integrassem o cardápio de restaurantes da alta gastronomia do Brasil e do mundo.
 
Como você concilia a atuação da Defensoria com os seus talentos?
Não escondo a minha paixão pela cozinha. Eu e minha esposa dividimos as tarefas de casa. Cozinhar ficou sob minha responsabilidade, principalmente depois que minha filha nasceu. Aos finais de semana, gostamos de reunir com os amigos e com a família e geralmente a programação é na cozinha, o espaço mais democrático da casa. Cozinhar é um ato que engloba todos os sentidos, provocando um arco-íris de sensações. É assim que vamos degustando a vida, junto daqueles que amamos.
 
A prática te ajuda de alguma forma no seu dia a dia de defensor?
Paciência e concentração. Cozinhar requer paciência. O tempo de cada receita não depende da nossa vontade e são realizadas várias tarefas, algumas simultaneamente, o que exige muita atenção, estimulando, assim, a minha capacidade de concentração e de tomar decisões, o que me ajuda muito no meu dia a dia como defensor, principalmente durante a realização de audiências.
 
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
“Nós gostamos de gente”, assim comemorou o defensor público-geral do Amazonas, Rafael Barbosa, os mais de 1 milhão de atendimentos da Defensoria do Amazonas em 2019.
 
Em 2017, a Defensoria Pública foi eleita a instituição mais importante do Brasil em pesquisa realizada pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Em 2019, a Defensoria Pública foi a instituição mais bem avaliada do sistema de justiça, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
 
 
As referidas pesquisas demonstram a importância da Instituição e a necessidade do seu fortalecimento como garantia do acesso à Justiça, portanto, fundamental constituir a Defensoria Pública de condições humanas, materiais e instrumentais apropriadas para que possa exercer com dignidade o seu mister conforme determina o art. 134 da Constituição Federal. Essencial, assim, a ampliação dos orçamentos das Defensorias Públicas do país.
 
Além da necessidade de aumento do orçamento, o sistema de justiça também precisa compreender o processo evolutivo da Defensoria Pública, principalmente em relação a sua missão de guardiã dos vulneráveis que, nas palavras do defensor Maurílio Casas Maia “em síntese, o Estado-Defensor é o guardião constitucional dos vulneráveis e dos direitos humanos, seja no plano individual ou no coletivo.”
 
Precisa-se, por fim, de mais empatia, pois nossa missão é promover inclusão, realizando um trabalho contramajoritário, ou seja, damos vozes aqueles que vivem à margem da sociedade!
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