Se você não consegue visualizar as imagens deste e-mail, clique aqui, ou acesse
http://www.anadep.org.br/wtksite/grm/envio/2550/index.html
 
Nº 021 - 23 de maio de 2019
Fernando Calmon
A primeira fotografia de que há registo (a preto e branco) é de 1826 e o seu autor foi o francês Joseph Nicéphore Niépce. Até então a pintura era o único processo capaz de imitar a realidade visível como se fosse uma imagem fotografada. A partir de então, a fotografia tornou-se uma profissão e arte, desde o uso de equipamentos profissionais até o uso de smartphones. O importante é registrar o sentimento do momento.
 
É assim que o defensor público Fernando Calmon também tornou-se fotógrafo profissional. Defensor há 26 anos, ele sempre atuou na área criminal, e hoje está nos Tribunais Superiores. A realidade dos assistidos são uma fonte de inspiração. Para ele o trabalho fornece uma visão realista do mundo, o que apura o olhar fotográfico. “Pensar é uma condição para uma boa fotografia, assim como, para ser um bom defensor público. O olhar é o mais importante para ser um fotógrafo, pois é aquilo que não podemos descrever com palavras", disse. 
 
Assim, cada fotógrafo tem sua própria história que conta a origem da sua relação com a fotografia.  
 
Confira a entrevista na íntegra!
 
 
 
ANADEP - 
Há quanto tempo você é defensor público? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?
Eu sou defensor público há 26 anos, desde março de 1993. Foi uma época que estava fazendo vários concursos. Fui aprovado em alguns e já havia tomado posse como procurador do Banco Central. Uma amiga de estudos me convenceu a mudar para Defensoria, que era uma novidade institucional. Não posso dizer ao certo porque topei, foi apenas um sentimento, algo que me tocou longe do meu domínio racional. Era o meu destino me chamando, um flerte metafísico. Fui muito desaconselhado por estar deixando uma carreira sólida e estável no Banco Central para assumir uma aventura, algo ainda por construir. Não tinha amigos ou qualquer referência na Defensoria Pública, mas mesmo assim tomei posse e assumi uma defensoria criminal (matéria completamente distante e estranha da minha prática cotidiana). Foi uma mudança radical na minha vida.
Como é sua atividade nos Tribunais Superiores?
Até hoje continuo na área criminal. Sou titular da 1ª Defensoria Criminal do Núcleo de Segundo Grau e Tribunais Superiores da Defensoria Pública do Distrito Federal, com atuação no Superior Tribunal de Justiça e no Superior Tribunal Federal. Estou muito engajado no fortalecimento na atividade do GAETS, Grupo de Atuação Estratégica da Defensoria Pública nos Tribunais Superiores, que tem por objetivo a atuação conjunta da Defensoria Pública de vários Estados, definindo estratégias e amadurecendo a solução de inúmeros e comuns casos. Antes, fui presidente da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos - ANADEP, Coordenador-Geral do Bloco dos Defensores Públicos do Mercosul, membro do Conselho Diretivo da Associação Interamericana de Defensoria Pública, Secretário Geral do Conselho Nacional dos Defensores Gerais - CONDEGE, Subdefensor Público-Geral e Corregedor-Geral da Defensoria Pública do Distrito Federal.
Um dos seus hobbies é a fotografia. Quando teve o primeiro contato com a fotografia?
Sempre tive contato com a fotografia. Mas não sei ao certo quando isto começou.  Mas, em 2009, depois de dez anos de intensa militância institucional, resolvi ingressar em um período sabático e voltar ao meu Núcleo de atuação. Mudei totalmente a minha vida no aspecto pessoal, com foco na saúde, qualidade de vida e boa alimentação. Neste ano comecei mais profissionalmente a estudar fotografia. Portanto, já podemos contar outros dez anos.
 
Em que área da fotografia se sente mais à vontade ou gosta mais de trabalhar?
Na fotografia fui percorrendo um caminho não tradicional. Ao contrário de inúmeros aconselhamentos, optei por não me especializar. Tem uma razão: fotografia pra mim é expressão da arte, algo que não se pode reduzir com facilidade às palavras. Tem um conteúdo plástico indescritível. Uma veia libertária me impediu de que toda essa profusão de sentimento não ficasse limitado a um tema só. A diversidade tem incontáveis possibilidades que me chamam a atenção. Adoro fotografar a natureza, os animais e, especialmente, as pessoas. Ou seja, quase tudo. Quando surge o interesse, me lanço integralmente em um projeto, o que demanda muito tempo, estudo e pesquisa. Não abro mão de ser livre, de escolher quando, como, onde e quem (o que) vou fotografar. Sou um fotógrafo profissional, mas não sou um fotógrafo comercial.
 
Hoje em dia existem muitas faculdades e cursos de fotografia. Você tem alguma formação ou é autodidata? Que equipamentos fotográficos usa com mais regularidade? Costuma também fotografar através de smartphone?
Não sou autodidata todo o tempo. Estudei e continuarei estudando em cursos, mentorias ou workshops. Não me interessa fazer uma faculdade de fotografia, gosto muito de romper regras, não daria certo. Faz dez anos que estudo e tenho muito por estudar ainda. Uso equipamentos profissionais e sofisticados. Tenho, portanto, várias possibilidades, mas ainda não fiz um trabalho com um smartphone, mas já vi galerias fantásticas.
Onde vai buscar a inspiração necessária para criar o seu trabalho?
Na verdade eu não busco inspiração. Ela simplesmente surge. Posso passar indiferente por uma cena ou me pegar registrando intensamente alguma coisa inédita ou inusitada. Andando, viajando ou mesmo me relacionando, estou me permitindo ser tocado pelo interesse. Mas a minha maior permissão, quem mais me toca a inspiração, é a minha esposa Catarina. É muito difícil imaginar uma cena sem ela ou que não seja para ela.
 
O que considera mais importante para se ser um bom fotógrafo?
O mais importante para ser um fotógrafo é o olhar. Aquilo que não podemos descrever com palavras, mas que faz toda a diferença quando se pretende eternizar uma imagem. É completamente alheio para um bom fotógrafo ter sofisticados equipamentos. Já vi ensaios feitos com iPhone que me impressionaram muito. Sem o olhar não tem alma e sem alma não existe fotografia. O olhar só se aperfeiçoa por aquilo que te toca o interesse.
 
Qual foto clicada por você tem um significado especial? Por quê?
Qualquer foto tem um significado para mim. Se registrei algo é porque tenho a pretensão de eternizá-la. Por ser assim, digamos, tão pretensioso, não existe uma foto especial, mas uma profusão delas.
 
 
Ponte dos Suspiros (Veneza)
Quais são os fotógrafos atuais ou antigos que você mais admira?
Sem querer reforçar um clichê, mas é inegável que o fotógrafo que mais me toca é o Sebastião Salgado. Por toda a sua trajetória, por seu viés libertário, por sua referência geracional e por ser tocado por temas sociais e de meio ambiente. Ele simplesmente é insuperável.
Quais as maiores dificuldades para um fotógrafo em início de carreira?
A maior dificuldade para um fotógrafo de início de carreira é exatamente o início de carreira. Como tudo na vida, a fotografia vai exigir do iniciante a rodagem. Não só com a fotografia, com os equipamentos ou técnicas de edição, mas rodagem na vida para amadurecer o olhar, para apurar a percepção.
 
 
New York
Com sua experiência, que conselho daria pra quem pensa entrar nesta carreira ou ter como hobby?
O único conselho que daria ao iniciante é apurar diuturnamente o olhar. Não apenas ao final de semana, nas férias ou quando estiver com uma câmera na mão. O olhar nos envolve com tudo a nossa volta. Pense sempre a fotografia antes de fazê-la. Registrar um momento começa no antes (ou no bem antes), passa pelo o durante e vai terminar no depois (na edição). Nós fotografamos primeiro com os olhos. É neste momento que definimos o que vai ficar para sempre.
Como é conciliar a atuação na Defensoria com a fotografia? A prática te ajuda no seu dia a dia de defensor?
A fotografia não é apenas um hobby para mim. Penso em fotografia todo momento, o que de maneira alguma é incompatível com o meu trabalho. E é simples saber o porquê: amo o que eu faço. Sou muito intenso como defensor público. Não fico ansioso para terminar e sair logo para fotografar. Como disse, a fotografia começa a ser registrada no antes. Quando trabalho, imagens me tocam. Posso considerar que na sua medida, o trabalho me fornece uma visão realista do mundo, o que apura o meu olhar. Existe algo que exige uma formação intelectual na fotografia. Trata-se de um espaço onde, como antigamente, a ciência tem uma interface intensa com a arte. Pensar é uma condição para uma boa fotografia, assim como para ser um bom defensor público. Fotografar não é uma prática automatizada.
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
Para o fortalecimento da nossa instituição é preciso que o(a) defensor(a) público(a) o seja de fato. Que tenhamos uma identidade funcional. Que possamos ser sinceros com os nossos propósitos, sem que isso implique em copiar e colar soluções alheias. O futuro da nossa instituição passa pela ideia de sermos defensores menos autárquicos, isolados, e mais coletivos e estratégicos. Normativamente já frequentamos o que tem de melhor por aí. O nosso fortalecimento passa necessariamente pela afirmação da nossa vocação no dia a dia, com foco total na nossa área fim.
ver edições anteriores »Clique aqui caso não queira mais receber nossos e-mails.